sexta-feira, 10 de abril de 2009

Noites de Insônia

Hoje ele não ia dormir. Depois da primeira hora passada tentando atingir o estado de paz necessário para isso sem sucesso, resolveu desistir. Sempre odiava quando isso acontecia, afinal não era a primeira vez que a insônia lhe alcançava. Sempre houve noites, desde sua infância, em que os pensamentos da sua cabeça pareciam ter vida e que tinham decidido se rebelar fazendo a maior bagunça, impedindo que ele dormisse.
Era só mais uma noite dessas onde muitas coisas passavam por sua cabeça, idéias, lembranças, desejos e acima de tudo preocupações. Ele nunca foi de se esconder dos seus problemas ou das suas dores, gostava de costurar as feridas e consertar as coisas logo de uma vez, nunca gostou de esperar. Fato que fazia de noites como essa serem mais difíceis de lidar.
A primeira vez em que teve uma noite dessas foi na sua infância, quando descobriu que tinha medo do que não podia ver. Foi na primeira vez em que teve um pesadelo, acordou de sobressalto sem conseguir respirar de tanto medo que sentia. A sua primeira noite de insônia, tentou voltar a dormir, mas não conseguiu, ficou pensando em coisas que crianças não costumam se dar conta ou mesmo conseguem entender, então resolveu ficar acordado.
Naquela noite assistiu TV e viu o seu primeiro amanhecer, quando amanheceu e a luz voltou ao seu mundo é que conseguiu voltar a dormir. Essa noite específica lhe mostrou duas coisas, que no momento ele não tinha entendido por ser ainda muito jovem. A primeira foi que gostava de ver o nascer do sol, foi uma experiência de contraste que lhe marcou, depois disso viu o nascer do sol centenas de vezes e quando acontecia ele tentava voltar àquela época onde a vida era mais fácil. A segunda foi o fato de não gostar do escuro, ele descobriu mais tarde que preferia fazer o que lhe dava mais prazer à noite, mas sempre carregou consigo o medo do escuro, não era um medo infantil, era mais uma insegurança de não poder ver o que queria ver, ele mesmo nunca entendeu. Aprendeu a gostar da noite e descobriu que na verdade a temia, pois ele, como muitas outras pessoas, descobriu que a noite desperta o que dormiu durante o dia.
E essa era outra noite dessas, mesmo depois de tantos anos não tinha aprendido a lidar com isso. Realmente parecia que seus pensamentos tinham resolvido sentar para conversar, o que no final com certeza acabou em discussão. Nessas noites ele só desejava ser mais “comum”, pois ele via as pessoas de duas formas: as inconscientes que de nada sabiam ou viam e não se importavam em não saber, e as conscientes que se importavam e sempre estavam em luta com o que sabiam.
Afinal a ignorância e a normalidade do comum e do regular era fortalezas para que as pessoas dormissem em paz, sem nem notar as ondas de bárbaros tentando invadir o seu castelo. Já aqueles, que como ele, se tornaram conscientes do mundo a sua volta, e que sabia que era correto se importar com esse mundo, estavam abrigadas em trincheiras onde ao menor sinal de perigo tinha que se levantar para lutar.
Era assim que se sentia em noites como essa, em luta consigo mesmo e com as decisões e ações que deveria tomar no dia seguinte para sanar as feridas que mundo lhe afligia ou nas pessoas que amava, e como desejava aquele sono reconfortante de paz e ignorância. Não tinha como mudar isso, estava em guerra, só lhe restava ir ver mais um raiar do sol, e assim que a luz do dia voltasse ao mundo, voltaria luta olhando os inimigos nos olhos.

7 comentários:

  1. o maneiro seu blog muito distinto dos que já vi legal!!!!

    http://surfprevision.blogspot.com

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  2. Desisti de fazer posts assim porque muita gente não lê, mas li o seu e gostei do que vi.

    Em noites de insonia eu também penso nas coisas, nas pequenas batalhas que tenho que enfrentar no dia seguinte e nas decisões que terei que tomar.

    Grande texto.

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  3. Gostei desse texto, apesar de não conseguir definir bem porque... Aliás, acho que consigo sim: eu sou exatamente como personagem (pelo o que eu entendi dele), as manhãs sempre parecem ser uma salvação quando ainda é noite e eu, digamos, tenho que "lutar".
    Obrigada por comentar no Hoppípolla e, sim, vou linkar o seu blog no meu. ^^

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  4. adoro a insonia. ela me permite bons momentos de leitura e escrita. a madrugada é a hora dos maiores silêncios, das maiores solidões. a madrugada é a hora melhores idéias.

    abraço.

    adorei o texo.

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  5. a insonia sempre me agradou muito, A insônia muitas vezes já foi útil pra mim,sempre tinha tempo pra pensar,refletir e escrever ...hoje não tenho mais tempo pra isso,mas sempre eu me dava de presente um dia de solidão total,ócio total, me sentia renovada. e quanto ao raiar do sol, e esse é um dos melhores programas que passa no céu - Parabéns e fascinante a maneira omo usa as palavras.

    Adorei seu seu blog, voltarei sempre *-*

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  6. eu nunca tive insônia.
    eu sou dessas que encosta e dorme u.u
    beeijos
    feliz páscoa
    www.andnobodyelse.blogspot.com

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  7. Ter uma noite de insônia é horrível se você tiver que acordar logo cedo no dia seguinte. Daí você fica pensando "se eu não dormir agora, vou acordar cansado sem disposição pra nada"!

    Tive dificuldade pra dormir quando eu era adolescente. Eu ia para a cama pensando em um monte de coisas.

    Isso parou quando eu passei a trabalhar, daí não tem como ter insônia. Eu quase via o Sol nascer e às 3 da tarde eu já estava doido para dormir. Daí de noite era só eu ir deitar e pimba! Hehehe.

    Gostei do seu texto, mas ficou um pouco ruim de ler porque ele não é dividido em parágrafos.

    PS: você comentou no meu texto "A Caverna". Já dispus o texto comentado se você quiser conferir! =D

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