sábado, 12 de dezembro de 2009

Sonâmbulo

Vários sons se misturavam dentro daquele lugar, gerando uma cacofonia de efeitos que para muitos poderia ser perturbadora, mas para ele era relaxante. Fazia-o se perder e se confundir, podia ser efeito da música, do álcool ou mesmo as sombras que a sua volta. Elas não tinham rosto, iam e vinham, e por mais que se esforçasse, não conseguia distinguir o que eram.


Tinha perdido a noção do tempo que havia transcorrido, como se estivesse dormindo dentro de si mesmo e sonâmbulo vivia a sua própria vida em um sonho confuso. Algo havia lhe entorpecido a alma, um nada que o tomava deixando-o cada vez mais anestesiado e distante da realidade. Uma escuridão que a tudo engolia e o envolvia. Não resistia a ela, pois só desejava não mais sentir nada. Queria que a dormência e o silêncio enfim inundasse seu espírito e lhe desse a paz desejada.


Então percebeu uma forma se aproximando dele, não era uma das sombras sem rosto que vira antes, era uma mulher de longos cabelos negros e olhos escuros. Ela estendeu a mão para ele e o trouxe para perto de si. Sentiu braços quentes lhe envolvendo. Por um momento entrou em pânico, estava acordando denovo e isso lhe assustou, mas a voz dela o acalmou.


E por um tempo encontrara ali a paz que tanto procurava, mas esquecera das antigas lições. Assim o tempo passou e tudo mudou, quando descobriu que as palavras nada significavam ou as ações não mudavam o seu fado, mais uma vez se viu perdido. Ao sentir tudo voltar, estava mais cansado do que nunca, o que o fez mais distante e adormecido. Não sabia se iria acordar novamente, de fato de não parecia se importar, afinal mais uma vez de nada lhe valeu o caminho percorrido ou a carga absorvida.


Antes de voltar a adormecer sussurrou, para as sombras que voltavam, um desejo secreto oriundo da última parte intocada de seu coração. Um infantil e inocente desejo de que, quando acordasse denovo, tudo fosse diferente.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Vazio

Ele sentiu algo se mexer dentro do seu peito. Estava lá há muito tempo, e agora tinha se tornado maior. Tomava seu coração e seus pensamentos. Não o deixava mais ser ou viver, era como se estive anestesiado, adormecido. Ele andava, comia, estudava, trabalhava e às vezes conseguia dormir. Assim era o vazio que lhe tomava.

Não era a primeira vez, por mais que tentasse sempre voltava a esse ponto. Se conseguisse pensar veria sua culpa e quem sabe poderia criar um final diferente para si mesmo. Ele precisava de ajuda, mas não conseguia gritar por ela, pois ele mesmo não percebia isso. Sem seu conhecimento o tempo passava e nada mudava.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Carta ao Viajante

"Se porventura nos econtrarmos, você pode me perguntar o que desejar, e eu responderei com a honestidade e sinceridade que me são inerentes, mesmo assim não poderá ter a real noção de chegar até aqui, o caminho é diferente para cada um assim como o destino que nos agurda no fim dele. Foi uma longa viagem, isso você pode ter certeza, não pelo tempo transcorrido e sim pelo caminho trilhado.


O objetivo óbvio de se viajar é chegar a algum lugar, e aqui estou eu, de pé, sentindo a areia massagear meus pés enquanto pressiono meus dedos contra o chão. Sinto uma brisa fresca acariciar meu rosto, fazendo anuviar minhas dores. Ouço o som das ondas do mar, em seu eterno ritmo, um compasso perfeito que nunca se repete.


O cansaço me toma e não consigo mais ficar de pé, então exausto me ajoelho e agradeço por enfim ter terminado. Nada mais deveria provar, os testes já se terminaram, as dúvidas se calaram e meu corpo podia então descansar para, quem sabe assim, meu coração parar de se sentir tão angustiado pelo que teve que suportar. Temia pelo fim por não saber o que esperar, agora se sentia um tolo por isso, essa esperava ser a última lição a ser aprendida: o medo é a virtude dos tolos.


Deixei essa carta, com essa narração de como foi concluir minha jornada, para os outros que, assim como você, conseguiram chegar aqui, desejo compartilhar contigo a alegria de ter concluído minha jornada já que a felicidade é um prêmio a ser compartilhado e não um tesouro a ser escondido. Desejo a você que ler essa carta o mesmo que sinto ao escrevê-la e boa sorte, afinal o que descobrimos na conclusão de qualquer viagem é que o fim só existe para os fracos. "

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Feridas do Passado

Depois de algum tempo afastado estou voltando, vou tentar postar algo uma vez por semana. Espero que aos que lerem gostem, mas senão gostarem por favor podem criticar, já que estou receoso por ter perdido o ritmo. Um abraço a todos.



Estava perdido em algum lugar dentro de si mesmo naquela noite, em mais uma viagem nostálgica ao seu passado. Ele era um hipócrita, disso ele sabia, mas só o admitia pra si mesmo. Sempre falava sobre não repetir o passado, aprender e esquecer, mas precisava de suas lembranças, das suas piores lembranças, e principalmente naquela noite onde mais uma ferida era acrescentada a sua alma.


O vinho que descia pela sua garganta não tinha nenhum sabor, só conseguia sentir o peso da bebida e força de seu teor alcoólico, e isso era o que realmente importava. Não tinha a mínima idéia de onde estava, perdido por ruas escuras e desconhecidas, e, caminhando com dificuldade, seu pensamento estava focado em não derrubar a garrafa que segurava e nos fantasmas que o seguiam.


Hoje conseguiu o que queria, suas feridas voltaram a sangrar, não podia deixá-las cicatrizar, pois elas lhe faziam se sentir único e especial, a vida era sua musa e a dor sua inspiração. Por vezes, via sombras passarem por ele. Formas indistintas de pessoas que esbarravam nele quase o derrubando, se misturando com os fantasmas de seu passado.


Estava mais uma vez sozinho, caminhando sem destino. Sua alma estava no torpor de um sonho profundo, sua mente confusa pelo vinho e seu coração doía pelas feridas abertas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Cavaleiro e a Donzela, final

Assim o inverno se passou, sem que o frio os incomodasse, pois aquele amor os aquecia. No entanto, Beleg sabia que a cada dia passado, a primavera estava mais próxima, e com o derretimento da neve seu dever era partir. Seu coração tinha um único dono: Malwen, entretanto esse mesmo coração se ressentia com o dever não cumprido. Ela por outro lado vivia a certeza de seu amor e a felicidade de compartilhar cada momento com Beleg.

E quando de fato a primavera chegou, Beleg decidira o que fazer. Não podia viver como um animal escondido na mata, devia ir até seu rei entregar sua espada e seu cavalo, anunciando para todos que não mais seria um cavaleiro a serviço da coroa. Dessa forma nada iria dever ao mundo ao qual tanto sacrificou, e poderia viver em paz com seu coração e com sua consciência, desfrutando do que sentia por sua donzela até que seu tempo no mundo terminasse.

Não foi nada fácil dizer adeus. Os olhos tristes de Malwen eram duas solitárias lagoas refletindo o luar numa noite de inverno. Em toda sua vida Beleg nunca se sentiu tão fraco, deixá-la exigiu tanto dele que quase não conseguia se manter no cavalo. Apesar do que sentia, Malwen entendera os motivos dele, pois não só se pode amar oferecendo-se por completo e era isso que Beleg pretendia fazer. Ela não aceitara a idéia de ir junto com ele, não queria nem mais visitar aquele mundo violento do qual fugira, quando Beleg voltasse, o mundo no qual vivia agora iria se tornar completo.

Assim Beleg partiu montado em Daeroch, cavalgando lentamente no começo, sentindo ainda o peso em seu coração de deixá-la mesmo que brevemente. E Malwen buscou consolo mais uma vez em seu mundo, ela sempre amara aquela floresta e a primavera não era uma época para sofrimento, se deixou levar pela promessa de esperança que a floresta trazia e assim apaziguou seu espírito.

Os dias se passaram, e com a chegada do verão, com sua luz forte e calor inquietante, Malwen se viu transtornada com a demora de Beleg. Meses haviam se passado e ele não retornara, ela não sabia o que fazer. Até que um dia caminhou para o norte, se distanciando da estrada em busca das frutas que cresciam em uma colina a poucos quilômetros da cabana. Queria ir lá não só para buscar alimento, pois tinha medo dos ursos que habitavam ali perto, nesse lugar podia se ver boa parte da estrada, dessa maneira quem sabe poderia ver seu cavaleiro retornando para ela. Esperança boba, ela sabia, mas era a esperança de uma mulher apaixonada.

Não vira nem sinal de ursos por perto, pôde assim chegar ao topo da colina sem problemas. Com o céu aberto, o sol ofuscou um pouco sua visão lá do alto ao olhar para o oeste, pois já passava do meio-dia, mas aos poucos foi divisando a forma da estrada cortando uma pequena parte da floresta. Acompanhou seu trajeto em direção ao leste, foi quando viu fumaça subindo da Grande Clareira. Esse lugar era um imenso espaço na floresta onde só crescia vegetação rasteira. Seu coração se apertou com o que aquilo poderia significar, ela então começou a correr desesperadamente naquela direção, não sentia os cortes em sua perna feitos pelos arbustos que cruzava muito menos a dor do cansaço. Ela só tinha um pensamento na cabeça: Beleg.

Ela correu e correu, só quando a noite chegou ela parou de correr e descansou, dores fortes em seu abdômen a preocuparam. Ao amanhecer ela continuou a viagem, mas dessa vez foi caminhando, alcançou a borda da Grande Clareira antes do meio-dia, o cheiro de carne apodrecendo ao sol embrulhou seu estômago, se entregou ao cansaço e sentou no chão. Enfim as lágrimas de seu desespero correram livres pelo seu rosto, ela se encolheu abraçando as próprias pernas. Ficou lá chorando tentando reunir forças para controlar seu desespero.

Ela não sabia quanto tempo tinha se passado, poderia até sido dias. O transe do seu sofrimento fora por demais pesado, dele ela foi arrancada por uma voz que insistia em falar-lhe, alguém chamava pelo seu nome. Pondo-se de pé rapidamente ela viu um homem montado em um cavalo branco bem a sua frente. “Milady, seu nome é Malwen?” ele disse, “Sim, esse é meu nome cavaleiro, como o senhor o adivinhou?”, respondeu ela. “Beleg me disse, por favor, sem mais perguntas eu lhe peço, Milady me acompanhe e saberá notícias dele”. Então ele desceu do cavalo e a colocou gentilmente montada e a conduziu pelo campo de batalha. Mais ao sul ela pôde ver uma grande tenda armada, era para lá aparentemente que estava sendo guiada.

Ela apeou do cavalo sozinha ao se aproximar, e se deixou guiar para dentro pelo cavaleiro que a encontrara. Depois de esperar alguns instantes foi levada para uma espécie de sala improvisada, ao entrar se atirou ao chão de joelhos, pois o próprio rei daquele país estava lá diante dela sentado em um trono improvisado. O rei fez um gesto para que o cavaleiro os deixasse, se levantou do trono e caminhou até ela. “Milady Malwen”, disse ele suavemente enquanto a ajudava a levantar. “Meu senhor”, foi tudo que ela conseguiu dizer. “Venha sente-se”, disse ele enquanto a conduzia até uma cadeira, “Vou lhe contar o que aconteceu”.

O rei lhe disse que Beleg foi até ele com o intuito de devolver a espada e o título que ele possuía, mas o rei indagou-o pelos seus motivos, Beleg prontamente contou o porquê de não poder mais servi-lo e o que faria dali pra frente. Dessa forma o rei ao saber que Beleg iria fixar residência na Grande Floresta junto com Malwen, se viu obrigado a lhe dizer que um exército invasor se aproximava para tomar a floresta, que era uma grande fonte de água potável, alimentos etc. Beleg então se viu obrigado a defender sua futura casa e seu grande amor daquele mal, assim prontamente acompanhou o rei para a batalha como seu último ato como cavaleiro.

“E nessa longa batalha em defesa do seu lar por direito e pela vida que ele escolhera viver, Beleg morreu”, concluiu o rei. Malwen já sentia isso em seu coração a algum tempo, por isso não ficou surpresa da notícia. “Eu já estava preparando uma patrulha para procurá-la na floresta, pois não podíamos enterrá-lo sem sua presença. Todos aqui já conhecem sua história, já que Beleg se orgulhava muito dela, ele sempre a contava a noite quando todos se sentavam em volta da fogueira, felizmente você nos encontrou a tempo”.

Na manhã seguinte Beleg foi enterrado aos pés da árvore onde Malwen o encontrara, todos os cavaleiros sobreviventes prestaram honras a ele, assim como o rei que antes de partir falou-lhe: “Milady, a armadura, espada e escudo são seus por direito, a única herança de um cavaleiro honrado como ele foi.”, disse o rei com a mão repousada sobre o ombro dela. Ela estava distante perdida nas memórias do inverno que vivera ao lado dele, ela olhava fixamente para a terra que cobria o corpo de Beleg, se aproximou da árvore a tocou e respondeu para o rei: “Não os quero, poucos conheceram Beleg de verdade, e aqueles que podem dizer isso sabem que a única coisa cuja qual ele desejava na vida era poder viver em paz, infelizmente quando encontrou seu lugar no mundo, foi levado pela morte, pois parecia que não era esse seu destino. Meu senhor só lhe digo uma coisa agora, antes de nos despedirmos para sempre, o filho que carrego no ventre não receberá tal herança, vou criá-lo sozinha para que ele possa realizar o sonho do pai de viver em tempos paz e lhe peço, meu senhor, meu rei para ajudar-me a realizar esse sonho. Só assim teremos certeza de que um homem com coração tão bom não morreu em vão”.

O rei olhou para o túmulo de Beleg e assentiu com a cabeça àquele pedido que não tinha nada de absurdo, pois aquele era o sonho de todos os homens, e a deixou lá em pé a se despedir enquanto acariciava o seu ventre.

sábado, 25 de julho de 2009

O cavaleiro e a donzela

Decidi reescrever essa história, devido a confusão que tava. Assim reescrevi completamente as 3 primeiras partes e esse resultado ao meu ver ta muito bom, até segunda devo ta postando a parte final. Só uma explicação: Beleg significa "O Forte", Malwen "Donzela Dourada" e Daeroch "Cavalo das Sombras".

Numa época já esquecida, havia um cavaleiro de nome Beleg. A vida era difícil para ele, cheia de guerras para lutar e deveres para cumprir, pois ele era um soldado e sua espada não servia a ele e sim ao seu rei. Nunca encontrara paz, muito menos descanso. Se ainda estivesse respirando devia continuar lutando, contra o mundo inteiro se fosse necessário. Essa era sua vida.


Depois de uma grande batalha, Beleg estava tão cansado que, ao partir montado em seu cavalo, por ele batizado de Daeroch, desmaiara depois de alguns quilômetros aos pés de uma grande árvore que margeava a Estrada da Grande Floresta. Caiu como as folhas do outono, e elas parecendo perceber o augúrio daquele acontecimento o acompanharam, se soltando dos galhos e flutuando até o cavaleiro caído. Formando assim um cobertor que o cobriu quase que inteiramente no decorrer daquele dia. E lá ficou abandonado, como se estivesse morto.


Não era seu destino morrer assim, sozinho e coberto por folhas secas e amareladas. Naquela floresta morava uma donzela, de nome Malwen. Ela crescera lá, morava numa cabana às margens de um pequeno riacho, numa área intocada e desconhecida por aqueles que utilizavam a estrada. Quase dois dias depois de ter caído, o cavaleiro já estava praticamente invisível embaixo de todas aquelas folhas, nesse dia Malwen decidira ir até a estrada perto da floresta para colher os frutos das árvores mais distantes, antes que o inverno chegasse.


Ela ouviu então, o som de um cavalo relinchando. Decidiu se aproximar sorrateiramente por medo dos viajantes que cruzavam a estrada, escondida na floresta ela viu um cavalo negro ainda de pé, que vacilava, provavelmente por sede ou fome. Ela esperou alguns instantes, para ter certeza de que não havia ninguém, pois podia ser uma armadilha dos vilões que por vezes se utilizavam da estrada. Quando teve certeza de que não havia mais ninguém saiu do seu esconderijo e foi até o animal.


Ao chegar perto, por educação, o animal se inclinou para que ela o tocasse, ao perceber o gesto a donzela tocou sua crina de leve e o afagou. De repente o animal ficou nervoso, e se agitou, então mostrou para Malwen o que o mantinha ali. Ao olhar para as folhas aos pés do salgueiro, notou o brilho de uma armadura e logo tratou de retirá-las para ver quem estava ali.


Foi assim que ela o encontrou, caído de costas ao chão. Seu elmo tombara em meio às folhas exibindo seu rosto. Tocando o rosto dele de leve para não assustá-lo, podia sentir toda a dedicação que guiara sua vida e o cansaço que o fez cair do cavalo. Ao passar seus dedos por cada linha daquele rosto ia desvendando quem ele era, cada traço ou cicatriz tinha uma história a ser contada, e ela estava lá para ler essas histórias e descobrir quem era aquele cavaleiro. Ao terminar se viu completamente apaixonada. Com a ajuda de Daeroch, ela o levou para dentro da floresta e lá cuidou dele e velou seu sono, noite e dia, desejando que ele acordasse.


Quando enfim beleg acordou, estava bastante assustado. Procurou sua espada na cintura, mas ela não estava lá. Sua armadura tinha sido removida também, o único pensamento que lhe ocorria era que fora capturado, mas ao olhar em volta, viu que estava dentro da Grande Floresta, Daeroch lhe fungava o pescoço, feliz ao vê-lo acordado. Viu também sua armadura, espada e escudo repousando próximos a uma árvore. Em vez de se acalmar, ficou mais confuso, mas tudo começou a fazer mais sentido quando ele notou a mulher agachada logo a sua frente. Esperou ela se virar, não queria assustá-la. Ela então pareceu ter terminado o que estava fazendo, se levantou e ficou de frente para o cavaleiro.


Ambos se surpreenderam ao se olharem pela primeira vez um nos olhos do outro. Beleg só conseguia pensar na vida que tivera até aquele momento: um borrão de acontecimentos, uma repetição de manhãs cinza, regadas ao som de metal se chocando e sangue derramado. Aquele definitivamente não seria um dia cinza, o sol rasgara as nuvens que encobriam sua visão e sua vida, mostrando algo belo. Era estranho estar desarmado, não só desarmado, mas indefeso e mesmo assim não tinha medo. Por um momento sentiu o tempo parar, nada se movia, o mundo inteiro resolveu admirar aquela cena. Onde um cavaleiro caído se apaixonava pela primeira vez na sua vida. Seu espírito ficara aturdido, não sabia o que era aquela sensação que lhe preenchia e fazia-o se sentir bem consigo mesmo. De todas as coisas nas quais pôde botar seus olhos, Malwen era a mais linda, seus cabelos escuros contrastavam com sua pele branca, fazendo-a linda como a primeira flor da primavera surgindo em meio à neve do fim do inverno.


Enquanto isso Malwen ficou lá em pé observando o cavaleiro a examiná-la, ele a olhava, mas ao mesmo tempo parecia que estava olhando para outro lugar, perdido em seus pensamentos tentando perscrutar o coração dela sem deixar de admirar sua beleza, fazendo-a ficar tímida com aquele olhar insistente. Ela já conhecia o coração dele, viu naqueles olhos o amor surgir, pois decorou aquele rosto ao velar seu sono. Beleg era um homem forte de cabelos claros e curtos, para não atrapalhar no uso do elmo, seu rosto tinha pequenas cicatrizes feitas pelo uso dele. Dava para perceber a insegurança dele ao se ver sem armadura e espada, já que devia ter passado a maior parte de sua vida as usando. Seu olhar transmitia calma, ao passo que seu rosto lhe mostrava firmeza de espírito.


Assim que ela começou a caminhar em sua direção, o mundo voltou a girar e as folhas a cair. Ele achou estranho ela estar descalça, andando com tamanha leveza e confiança, e se sentiu mal por estar daquela maneira, tão inseguro. Ao chegar perto dele se ajoelhou ao seu lado esquerdo, e lhe ofereceu água e frutas, água que ele avidamente tomou e frutas que praticamente devorou, ficou envergonhado por sua falta de modos e totalmente desconcertado com o sorriso dela, de tão inocente e belo parecia que irradiava a sua alegria para quem estivesse perto, como sol em um dia de verão, Beleg já se sentia mais forte só de estar tão perto dela.


Naquele dia eles conversaram até muito depois do anoitecer, Malwen o obrigou a descansar pelo menos mais um dia. Depois de tantos anos de luta, Beleg sentiu pela primeira vez desde sua infância, a tão desejada paz. Não sabia ainda distingui-la do resto que sentia naquele momento, no fundo reconhecia aquele sentimento, estava descansado, feliz e em paz por ter encontrado seu primeiro amor. Tinha certeza disso, certeza pelo olhar dela que esse amor era correspondido. Só devia ser aquele tipo de sonho que se tem quando está prestes a morrer. Para sua sorte não era um sonho.


Outono nunca pareceu uma época feliz, afinal não havia o sol quente do verão ou a brisa reconfortante da primavera. Não havia cores ou alegria nessa época do ano, pois a folhas caiam e as flores murchavam enquanto a temperatura caia e o sol empalidecia. O inverno se aproximava, todos podiam sentir menos aqueles dois.


No outro dia, ela o levou até a cabana em que vivia. E contou para ele sua história, disse que seus pais viviam como empregados em um castelo não muito longe dali, mas sua depois de sua mãe morrer durante uma tentativa de tomada do castelo, ela foi levada pelo pai para lá. Um lugar onde podiam viver em paz, longe de guerras sem sentido e batalhas sangrentas, mas seu velho pai morrera no último verão, o tempo lhe alcançara tomando-o dela.


Beleg se sentiu triste e um pouco culpado, pois guerra tinha sido a vida dele até ali, mas nada disse preferiu ficar em silêncio. Logo chegaram a cabana dela, que era formada apenas por um cômodo interno, uma grande sala com uma mesa de madeira no fundo e uma cama improvisada perto da lareira logo na entrada. Seria o primeiro inverno que Malwen passaria sem seu pai, Beleg usou desse argumento para afastar os pensamentos que lhe diziam para ir em busca de cumprir seus deveres como cavaleiro.


Ele cortava e acondicionava lenha, e ela juntava frutas e ervas. Algumas vezes ele tentava caçar, e a carne que sobrava também era guardada. Outono nunca pareceu uma época feliz, afinal não havia o sol quente do verão ou a brisa reconfortante da primavera. Não havia cores ou alegria nessa época do ano, pois a folhas caiam e as flores murchavam enquanto a temperatura caia e o sol empalidecia. O inverno se aproximava, todos podiam sentir menos aqueles dois.


A neve cobriu tudo a volta deles. Passavam assim muito tempo dentro da cabana conversando, trocando histórias triste e alegres. Eles dormiam lado a lado perto da lareira, revezavam ao velar o sono um do outro, outras vezes ficavam olhando um para o outro até adormecerem. Uma noite ele acordou, depois de um pesadelo onde morria durante uma batalha, e percebeu que ela tremia de frio, então sem poder mais se conter, deitou-se próximo a ela e a abraçou. Inconscientemente ela se aconchegou no ombro esquerdo dele e assim os dois adormeceram.


Numa época já esquecida, havia um cavaleiro de nome Beleg. A vida era difícil para ele, cheia de guerras para lutar e deveres para cumprir, pois ele era um soldado e sua espada não servia a ele e sim ao seu rei. Nunca encontrara paz, muito menos descanso. Se ainda estivesse respirando devia continuar lutando, contra o mundo inteiro se fosse necessário. Essa era sua vida.

Depois de uma grande batalha, Beleg estava tão cansado que, ao partir montado em seu cavalo, por ele batizado de Daeroch, desmaiara depois de alguns quilômetros aos pés de uma grande árvore que margeava a Estrada da Grande Floresta. Caiu como as folhas do outono, e elas parecendo perceber o augúrio daquele acontecimento o acompanharam, se soltando dos galhos e flutuando até o cavaleiro caído. Formando assim um cobertor que o cobriu quase que inteiramente no decorrer daquele dia. E lá ficou abandonado, como se estivesse morto.

Não era seu destino morrer assim, sozinho e coberto por folhas secas e amareladas. Naquela floresta morava uma donzela, de nome Malwen. Ela crescera lá, morava numa cabana às margens de um pequeno riacho, numa área intocada e desconhecida por aqueles que utilizavam a estrada. Quase dois dias depois de ter caído, o cavaleiro já estava praticamente invisível embaixo de todas aquelas folhas, nesse dia Malwen decidira ir até a estrada perto da floresta para colher os frutos das árvores mais distantes, antes que o inverno chegasse.

Ela ouviu então, o som de um cavalo relinchando. Decidiu se aproximar sorrateiramente por medo dos viajantes que cruzavam a estrada, escondida na floresta ela viu um cavalo negro ainda de pé, que vacilava, provavelmente por sede ou fome. Ela esperou alguns instantes, para ter certeza de que não havia ninguém, pois podia ser uma armadilha dos vilões que por vezes se utilizavam da estrada. Quando teve certeza de que não havia mais ninguém saiu do seu esconderijo e foi até o animal.

Ao chegar perto, por educação, o animal se inclinou para que ela o tocasse, ao perceber o gesto a donzela tocou sua crina de leve e o afagou. De repente o animal ficou nervoso, e se agitou, então mostrou para Malwen o que o mantinha ali. Ao olhar para as folhas aos pés do salgueiro, notou o brilho de uma armadura e logo tratou de retirá-las para ver quem estava ali.

Foi assim que ela o encontrou, caído de costas ao chão. Seu elmo tombara em meio às folhas exibindo seu rosto. Tocando o rosto dele de leve para não assustá-lo, podia sentir toda a dedicação que guiara sua vida e o cansaço que o fez cair do cavalo. Ao passar seus dedos por cada linha daquele rosto ia desvendando quem ele era, cada traço ou cicatriz tinha uma história a ser contada, e ela estava lá para ler essas histórias e descobrir quem era aquele cavaleiro. Ao terminar se viu completamente apaixonada. Com a ajuda de Daeroch, ela o levou para dentro da floresta e lá cuidou dele e velou seu sono, noite e dia, desejando que ele acordasse.

Quando enfim beleg acordou, estava bastante assustado. Procurou sua espada na cintura, mas ela não estava lá. Sua armadura tinha sido removida também, o único pensamento que lhe ocorria era que fora capturado, mas ao olhar em volta, viu que estava dentro da Grande Floresta, Daeroch lhe fungava o pescoço, feliz ao vê-lo acordado. Viu também sua armadura, espada e escudo repousando próximos a uma árvore. Em vez de se acalmar, ficou mais confuso, mas tudo começou a fazer mais sentido quando ele notou a mulher agachada logo a sua frente. Esperou ela se virar, não queria assustá-la. Ela então pareceu ter terminado o que estava fazendo, se levantou e ficou de frente para o cavaleiro.

Ambos se surpreenderam ao se olharem pela primeira vez um nos olhos do outro. Beleg só conseguia pensar na vida que tivera até aquele momento: um borrão de acontecimentos, uma repetição de manhãs cinza, regadas ao som de metal se chocando e sangue derramado. Aquele definitivamente não seria um dia cinza, o sol rasgara as nuvens que encobriam sua visão e sua vida, mostrando algo belo. Era estranho estar desarmado, não só desarmado, mas indefeso e mesmo assim não tinha medo. Por um momento sentiu o tempo parar, nada se movia, o mundo inteiro resolveu admirar aquela cena. Onde um cavaleiro caído se apaixonava pela primeira vez na sua vida. Seu espírito ficara aturdido, não sabia o que era aquela sensação que lhe preenchia e fazia-o se sentir bem consigo mesmo. De todas as coisas nas quais pôde botar seus olhos, Malwen era a mais linda, seus cabelos escuros contrastavam com sua pele branca, fazendo-a linda como a primeira flor da primavera surgindo em meio à neve do fim do inverno.

Enquanto isso Malwen ficou lá em pé observando o cavaleiro a examiná-la, ele a olhava, mas ao mesmo tempo parecia que estava olhando para outro lugar, perdido em seus pensamentos tentando perscrutar o coração dela sem deixar de admirar sua beleza, fazendo-a ficar tímida com aquele olhar insistente. Ela já conhecia o coração dele, viu naqueles olhos o amor surgir, pois decorou aquele rosto ao velar seu sono. Beleg era um homem forte de cabelos claros e curtos, para não atrapalhar no uso do elmo, seu rosto tinha pequenas cicatrizes feitas pelo uso dele. Dava para perceber a insegurança dele ao se ver sem armadura e espada, já que devia ter passado a maior parte de sua vida as usando. Seu olhar transmitia calma, ao passo que seu rosto lhe mostrava firmeza de espírito.

Assim que ela começou a caminhar em sua direção, o mundo voltou a girar e as folhas a cair. Ele achou estranho ela estar descalça, andando com tamanha leveza e confiança, e se sentiu mal por estar daquela maneira, tão inseguro. Ao chegar perto dele se ajoelhou ao seu lado esquerdo, e lhe ofereceu água e frutas, água que ele avidamente tomou e frutas que praticamente devorou, ficou envergonhado por sua falta de modos e totalmente desconcertado com o sorriso dela, de tão inocente e belo parecia que irradiava a sua alegria para quem estivesse perto, como sol em um dia de verão, Beleg já se sentia mais forte só de estar tão perto dela.

Naquele dia eles conversaram até muito depois do anoitecer, Malwen o obrigou a descansar pelo menos mais um dia. Depois de tantos anos de luta, Beleg sentiu pela primeira vez desde sua infância, a tão desejada paz. Não sabia ainda distingui-la do resto que sentia naquele momento, no fundo reconhecia aquele sentimento, estava descansado, feliz e em paz por ter encontrado seu primeiro amor. Tinha certeza disso, certeza pelo olhar dela que esse amor era correspondido. Só devia ser aquele tipo de sonho que se tem quando está prestes a morrer. Para sua sorte não era um sonho.

Outono nunca pareceu uma época feliz, afinal não havia o sol quente do verão ou a brisa reconfortante da primavera. Não havia cores ou alegria nessa época do ano, pois a folhas caiam e as flores murchavam enquanto a temperatura caia e o sol empalidecia. O inverno se aproximava, todos podiam sentir menos aqueles dois.

No outro dia, ela o levou até a cabana em que vivia. E contou para ele sua história, disse que seus pais viviam como empregados em um castelo não muito longe dali, mas sua depois de sua mãe morrer durante uma tentativa de tomada do castelo, ela foi levada pelo pai para lá. Um lugar onde podiam viver em paz, longe de guerras sem sentido e batalhas sangrentas, mas seu velho pai morrera no último verão, o tempo lhe alcançara tomando-o dela.

Beleg se sentiu triste e um pouco culpado, pois guerra tinha sido a vida dele até ali, mas nada disse preferiu ficar em silêncio. Logo chegaram à cabana dela, que era formada apenas por um cômodo interno, uma grande sala com uma mesa de madeira no fundo e uma cama improvisada perto da lareira logo na entrada. Seria o primeiro inverno que Malwen passaria sem seu pai, Beleg usou desse argumento para afastar os pensamentos que lhe diziam para ir em busca de cumprir seus deveres como cavaleiro.

Ele cortava e acondicionava lenha, e ela juntava frutas e ervas. Algumas vezes ele tentava caçar, e a carne que sobrava também era guardada. Outono nunca pareceu uma época feliz, afinal não havia o sol quente do verão ou a brisa reconfortante da primavera. Não havia cores ou alegria nessa época do ano, pois as folhas caiam e as flores murchavam enquanto a temperatura diminuía e o sol empalidecia. O inverno se aproximava, todos podiam sentir menos aqueles dois.

A neve cobriu tudo a volta deles. Passavam assim muito tempo dentro da cabana conversando, trocando histórias tristes e alegres. Eles dormiam lado a lado perto da lareira, revezavam ao velar o sono um do outro, outras vezes ficavam olhando um para o outro até adormecerem. Uma noite ele acordou, depois de um pesadelo onde morria durante uma batalha, e percebeu que ela tremia de frio, então sem poder mais se conter, deitou-se próximo a ela e a abraçou. Inconscientemente ela se aconchegou no ombro esquerdo dele e assim os dois adormeceram.


Quando ele acordou, com a claridade fraca entrando pelas frestas da cabana, percebeu que ela ainda estava aninhada em seu ombro. Seu coração quase parou nesse momento, o cabelo longo e desalinhado dela parecia tão macio que ele teve que tocá-lo. Ao passar seus dedos pelos seus cabelos ela suspirou ao toque dele e o olhou nos olhos. “Obrigado por ter salvado minha vida”, ele disse com a voz embargada pela emoção. Ela tocou seu rosto com a mão esquerda e disse “Nós nos encontramos no outono de nossas vidas, quando você caiu e eu, como uma árvore, perdia minhas folhas, agora ambos estamos a salvo”, então ele a abraçou e a beijou. Naquela manhã fria de inverno, ambos sucumbiram ao calor de seus desejos, se entregando àquele amor, deixando a paixão os consumir como a lenha da lareira.

sábado, 4 de julho de 2009

Dúvidas e Certezas

Ele vivia a dúvida do hoje. Ele sabia que as únicas certezas que poderia possuir seriam aquelas do ontem. Descobriu tarde demais que elas não se sustentavam durante muito tempo. Somente as dúvidas perduram.

Sempre pensou que as respostas estavam com ele, as sentia caminhando ao seu lado todas as vezes que as dúvidas tentavam pegá-lo de surpresa, mas as incertezas eram o mar e ele a rocha. Aos poucos elas minaram sua resistência, as respostas foram se desgastando a cada maré.

Hoje ele olhava para si mesmo e procurava o que não estava lá, o que havia partido, mudado ou simplesmente sumido. Hoje ele viva com a dúvida do que acontecia agora e do que o amanhã traria, sempre temeu o que desconhecia. Sentia-se perdido sem as respostas.

Hoje só desejava que esse agora cheio de dúvidas em que vivia, tivesse chegado a tempo. Nem tarde, nem cedo, queria ter a certeza de que devia ser assim. Estava muito cansado para reviver o que já fora, precisava da certeza do que é.

As respostas não estavam mais com ele, tinha que viver essa nova vida. Uma vida onde as perguntas seriam sua companhia, uma jornada em busca das respostas

sábado, 27 de junho de 2009

campeão, 2ª parte

Desde o começo, só conseguia ouvir o som das batidas em seu peito. Eram tão fortes que pareciam fazer vibrar todo seu corpo até chegar aos seus ouvidos. Era parte dele, aquele coração pulsante. A tudo ele sentia, cada hesitação dos seus golpes, a incerteza da vitória ou a fúria que muitas vezes lhe tomava e queimava em seu peito, fazendo-o desprevenido e descuidado. Aquele coração era a antena de tudo isso, e o seu inimigo já aprendera o seu ponto fraco.
Naquele momento em que se apoiava naquela árvore, já sabia que iria perder. Esse sentimento já estava lá, bem no fundo, fugindo e se escondendo para que ele não soubesse, mas ele sabia. Poucas coisas além do que sentia ele conseguia entender. E essa era uma delas, a mente do seu inimigo ia vencer o seu coração de lutador.
Nem por isso ele desistiria, não até o último golpe. Seu coração o impedia disso, o impedia de pensar. Aquele coração o controlava e iria fazê-lo continuar lutando. Ele estava cansado, não da luta em si, não seu corpo. Mas ele sentia o cansaço lhe tomando. Precisava terminar aquela luta, o fim era o que desejava.
Quando viu seu inimigo se entregar, fez o que sempre fazia. Entregou-se a paixão do momento e correu para a vitória, contra todas as expectativas acreditou que o fim daquela luta seria diferente do que acreditara. Assim partiu para cima de seu oponente, e caiu na armadilha.
Agora não podia ouvir o som que lhe acalentou e motivou durante tanto tempo. Só podia sentir o vazio e ouvir o silêncio, mesmo assim estava feliz. Olhou para seu inimigo bem no fundo dos olhos, sabia que ele entenderia. Somente ele podia entendê-lo tão bem, pois eles dois eram a mesma pessoa. Duas partes de um só, que no fim seriam apenas uma. O campeão.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Campeão

Não sabia há quanto tempo estava lutando. Talvez fosse a vida toda, talvez não. Era impossível dizer, só conseguia se lembrar de estar nessa batalha. Uma luta sem fim contra o único inimigo que conhecera. Não poderia explicar o porquê da luta, somente sabia o que aprendera durante a vida que desperdiçara nessa disputa. Já conheciam os pontos fortes e fracos um do outro, mas até agora a batalha continuava empatada.

Ele tinha a força de vontade de sua concentração. Sua mente era forte, ela comandava seu corpo obrigando-o a continuar. O inimigo era persistente, seu coração batia forte em seu peito, fazendo seu corpo ser mais resistente ao cansaço. Ele não conseguia mais continuar, estava cansado demais.

Decidiu descansar apoiado sobre seu joelho direito, na mão direita a espada e no braço esquerdo o escudo. Fincou a espada no chão e a usou para descansar o pescoço, colocando a mão direita sobre a ponta do cabo e descansando a testa nela. Seu pescoço doía muito devido ao peso do elmo que protegia sua fronte. Decido ao peso da sua armadura e de seu armamento, já sentia o afundar de seu joelho na neve. O frio o lembrou de ficar acordado, não podia desistir, isso era algo que sua mente jamais o deixaria fazer.

Seu inimigo estava de pé encostado numa árvore, ele fora mais inteligente, afinal poderia descansar, e ao mesmo tempo, não teria que fazer o esforço brutal necessário pra levantar com todo aquele peso. Suas armaduras eram idênticas, assim como suas armas e seus olhos. Tudo idêntico, um espelho era o que via ao olhá-lo, e da mesma forma eles eram tão diferentes. Na forma como lutavam, olhavam um para o outro ou ainda como viam o desenrolar da batalha, a única coisa em comum que tinham era a vontade de vencer.

Percebeu que seu inimigo já estava descansado, devido a força do seu coração, esperava por ele se levantar para continuar. Mas ele ficou lá a encará-lo, tentando perscrutar uma forma de vencê-lo, sabia que era só uma questão de tempo, logo estaria derrotado. Mesmo com toda a força de vontade da sua mente, o coração que bombeava o sangue nas veias de seu inimigo era incansável, ao contrário de seu corpo que estava quase resolvendo não fazer o que o cérebro ordenava.

Dessa forma, deixou a espada fincada ao chão e levantou a cabeça. Com a mão direita soltou as amarras do escudo e o largou no chão, afundando na neve, que não parava de cair em flocos contínuos. Conseguiu se levantar sem o peso extra, seu inimigo o olhava confuso, tentando entender o que estava acontecendo. Usando ambas as mãos retirou o elmo, ele estreitava sua visão e o distraía, quando seu peso fazia com que sua cabeça pendesse devido ao cansaço.

Assim, ele ficou de pé com a espada fincada ao chão, esperando. A cada inspiração, o ar frio parecia furar seus pulmões, a dor era muito forte, mas mantinha-o concentrado. Com a dor sua mente ainda podia lidar e agora o cansaço estava mais controlado, devido à diminuição do peso que estava carregando. Abriu os braços e esperou, seu olhar era o do entendimento de que o fim estava próximo e não podia esperar. Então seu inimigo, usando toda a energia que pulsava em seu corpo, devido à ânsia de ter conseguido sobreviver até esse momento, partiu em direção dele. Com o escudo preso ao braço esquerdo à frente, protegendo-o de golpes inesperados e a espada em punho na mão direita.

Ele fechou os olhos e esperou, ao chegar a sua frente seu inimigo teve que desviar da espada fincada no chão, e se aproximou pelo lado esquerdo dele. Mas o inimigo fora distraído, já quase totalmente afundado na neve estava o escudo dele, quando percebeu o seu erro já era tarde demais, teve que se desviar dele para não correr o risco de cair ao pisá-lo, dessa forma quando foi golpeá-lo mirando sua fronte desprotegida, teve que afastar o escudo do corpo para não atrapalhar a precisão do golpe.

Tudo parou para ele, a neve que caía, a respiração de ambos foram suspensas. O mundo parou para suspirar e ver o que ia acontecer, então ele tomou a espada, tirando-a do chão com as duas mãos e afundou-a no peito do seu inimigo quando viu que o escudo não o protegia mais. Um golpe certeiro, onde desde o começo da luta tentou acertar, o coração. Afundou tão fundo a espada que teve que se ajoelhar, para suportar o peso do inimigo que caia de braços abertos sobre ele. Olhou-o no fundo dos olhos e viu a alegria que ele também procurava, a luta terminara e como toda batalha só havia um campeão.

domingo, 21 de junho de 2009

Confissões da Madrugada

Sou um futuro abandonado
A promessa não realizada
Uma vida esquecida
Um caminho interrompido

Vejo livros empoeirados
Estantes vazias
Horas que passam
O tempo lento a caminhar

Ouço o eco das palavras
Meus pensamentos
Músicas sem sentido
O silêncio ressoar

Sinto o coração bater
As velhas dores voltando
A esperança partindo
E as mudanças no ar

A chuva cai
Lágrimas secam
O sol se põe
A noite está próxima
É o fim que a tudo domina.

Mais selos

Queria agradecer a jessica do http://hoppipollablog.blogspot.com/ pelo selo, um blog que eu gosto muito, obrigado viu.

Photobucket

"Este selo é para blogs que 'demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos leitores'".



Regras:



1 - O premiado deverá expor o selo no seu blog e atribuí-lo a sete outros blogs que considere merecedores.

2 - O premiado deverá responder à seguinte pergunta: O que significa para si ser um Homo sapiens?


Blogs indicados:



http://verborragia-blog.blogspot.com/

http://intimoepessoalblog.blogspot.com/

http://ocaoocidental.blogspot.com/

http://scriptmanent.blogspot.com/

http://menosummaisum.blogspot.com/

http://sopadeentrelinhas.blogspot.com/

http://escritosdejoseanecosta.blogspot.com/





Ser um homem que sabe, não é fácil, pelo menos não para aqueles que se dedicam a descobrir se vale a pena saber. É procurar a verdadeira verdade.


Esse outro selo eu agradeço a branca do http://scriptmanent.blogspot.com/ e a jessica do http://hoppipollablog.blogspot.com/

Photobucket

As regras são:

1 – A pessoa selecionada deve fazer uma lista com oito coisas que gostaria de fazer antes de morrer.

2 - É necessário que se faça uma postagem relacionando estas oito coisas e é necessário que a pessoa explique as regras do jogo.

3 – Ao finalizar, devemos convidar oito parceiros de blogs.

4 – Deixar um comentário para quem nos convidou.





as oito coisas:

1 - realizar um filme de um roteiro meu

2 - publicar um livro

3 - ter um filho

4 - Ler todas as peças de shakespeare

5 - ver o meu blog crescer

6 - assistir o pealr jam ao vivo

7 - finalizar a minha coleção de filmes

8 - comprar um cinema



blogs indicados:
http://acronista.blogspot.com/

http://vivianelago.blogspot.com/

http://dailyofcamila.blogspot.com/

http://escritosdejoseanecosta.blogspot.com/

http://sopadeentrelinhas.blogspot.com/

http://menosummaisum.blogspot.com/

http://intimoepessoalblog.blogspot.com/

http://juventudeviciosa.blogspot.com/



esse eu agradeço a branca do http://scriptmanent.blogspot.com/

Photobucket

Selo: o teu blog merece ser filmado!


I- Escolher cinco situações da vida para passar em câmera lenta.

II- Escolher 12 blogs para o desafio, e avisá-los.



momentos:


1 - minha formatura

2 - a tarde do dia 06/05/2003

3 - o dia q conheci os meus amigos

4 - a primeira vez q peguei meu sobrinho nos braços

5 - a primeira vez q fui ao cinema



blogs indicados:


http://acronista.blogspot.com/

http://vivianelago.blogspot.com/

http://dailyofcamila.blogspot.com/

http://escritosdejoseanecosta.blogspot.com/

http://sopadeentrelinhas.blogspot.com/

http://menosummaisum.blogspot.com/

http://intimoepessoalblog.blogspot.com/

http://juventudeviciosa.blogspot.com/

http://aninha-ameninacor-de-rosa.blogspot.com/

http://verborragia-blog.blogspot.com/

http://sopadeentrelinhas.blogspot.com/

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Amanhecer

Estava amanhecendo. Apesar de tudo que acontecera, outro dia começava A luz do sol aos poucos rompia o véu escuro da noite que morria para dar nascimento ao dia. E esse hoje que começava trazia aos seus olhos um novo mundo. E esse novo mundo era um lugar onde tudo era diferente, um lugar onde valia a pena viver, onde seu coração podia bater livremente, sem receio e com a esperança de felicidade.

Ele via a luz do dia se aproximar, sabia que ao ser tocado por ela o frio que sentia iria embora. Por isso caminhava na direção dela, em direção ao sol. Caminhava lentamente, a tudo experimentando como se fosse pela primeira vez. Seus sentidos pareciam estar mais aguçados, tudo parecia mais vivo e próximo.

Ouvia o som de seus passos no concreto da calçada, marcando a passagem do tempo de maneira própria, fazendo parecer que seus passos eram a marchar do tempo, dessa forma naquele momento podia controlá-lo. Era só caminhar mais lentamente ou parar, que o tempo lhe acompanharia. Ouviu os despertadores tocando dentro das casas pelas quais passava, o som de um rádio dando as primeiras notícias do dia e até mesmo o bater de asas dos pássaros irrequietos por sempre acordar tão cedo.

Adorava aquela rua por causa das árvores que a ladeavam. A luz do sol fazia o orvalho das folhas brilharem como pequenas estrelas, quase ofuscando sua visão mais sensível. Tocava de leve as árvores ao passar por elas. Sentia o cheiro de café quente sendo servido e de flores.

Estava feliz, toda sua tristeza lhe abandonara. Hoje se sentia capaz de qualquer coisa, hoje era seu dia, seu momento. Devia tudo isso ao que acontecera no ontem, no que passou. Teve momentos em que pensou em desistir, em que realmente acho que esse dia não ia chegar, mas o amanhã que tanto desejou e sonhou se tornou o hoje. Apesar de todas as suas dúvidas sobrevivera para ver o amanhecer desse novo dia, aprendendo uma grande lição com tudo que sofrera, o maior remédio era sobreviver a cada dia, pois cada amanhecer é diferente, o próximo amanhecer pode ser o seu.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O Chamado, Final

Não tinha idéia de quanto tempo dormira, mas sabia que nunca dormira por tanto tempo. Fora um sono escuro sem sonhos, um sono pesado de qual acordara sentindo as pequenas gotas da chuva fraca que caía. Sentia-se estranho, parecia que tinha dormido várias horas e agora acordava de um longo sonho, então se sentou tentando sair da letargia que o envolvia. Nada de música. Olhou para a garrafa de vinho e a viu vazia. Vazia como seu coração estava. Não lembrava de ter bebido tanto.

“Quanto tempo eu dormi?”, perguntou a si mesmo. A chuva fina tocava-lhe a pele de forma carinhosa, gostou tanto da sensação que fechou os olhos e se concentrou no que ouvia e sentia. Suas costas doíam, levantou lentamente para não piorar a dor e caminhou até a beirada novamente. Fez isso tão instintivamente que parecia estar programado para ver o que viu.

Não era o mesmo lugar que vira a pouco tempo atrás, era familiar, mas não era o mesmo lugar. Viu casas vazias velhas e decrépitas, onde antes moravam seus vizinhos. A rua esburacada e abandonada lhe oprimia. Só o poste a frente da sua casa ainda funcionava, todo o resto estava escuro como o céu sem estrelas.

Quase desmaiou com o peso do que vira e lembrara. Muito tempo se passara, mais tempo do que um sonho pode durar. Olhou para suas mão e viu dedos nodosos e a pele enrugada. Sabia o que acontecera.

Lembrou da noite em que aprendera a dizer não aos chamados. Aquela fora a primeira vez, a vez que transformou o seu coração, e cegou seus olhos e vedou os seus ouvidos. Desde lá, não conseguia mais ouvir, ver ou sentir quando lhe chamavam, quando necessitavam dele, e o tempo passou e o levou consigo rápido e feroz. Ele tomara as rédias de sua vida e o levou embora. Abandonando-o aqui para ver no que se tornara. Pois só o tempo se moveu, ele ficara no mesmo lugar.

Repetira tantas vezes não para ela, incontáveis vezes enquanto dormia. E não só para ela. Dissera não a tudo e a todos que tentaram tirá-lo do seu longo e merecido sono. Nenhum chamado o despertou, só agora, quando a noite cansada de ser ignorada por ele, resolveu acordá-lo e como nas outras vezes ele respondera. Sentou novamente naquela beirada, e lá ficou com a chuva a lhe confortar na solidão do seu silêncio, não tinha mais músicas em sua memória, não conseguia lembra de nenhuma e não era mais capaz de ouvir nenhuma. E depois de tantos anos, chorou junto com a chuva e ao lado da única que nunca o deixou, sua eterna amiga, a noite.

terça-feira, 2 de junho de 2009

O Chamado, Parte II

Alguns segundos se passaram. O mundo continuava girar, a gravidade ainda mantinha tudo em seu devido lugar. Ele ainda estava lá, sentado naquela beirada. A taça vazia e a garrafa de vinho repousavam próximas a ele. Teve que ter certeza disso, pois sentiu que naquele momento o seu mundo ia se desfazer bem na sua frente, denovo. Quase caiu quando atendeu ao telefone. Nada disse, e ninguém respondeu do outro lado, pois antes que pudesse dizer algo, ouvira a música.

Era Stand by me, dos Beatles. Ficou lá, ouvindo a música e se lembrando de tempos antigos, de quando tudo era mais fácil. Fora pego de surpresa e estava em transe. Lembrou de quando era criança e via Conta Comigo na sessão da tarde antes de ir jogar bola com os amigos. Lembrou de amigos que partiram e das aventuras que tivera com eles, lembrou de seus amores juvenis, e seus fins trágicos. Recordou de sua primeira vida. Era assim que ele via essa época, como outra vida que vivera há tanto tempo, uma vida tão distante que lhe parecia um sonho. O vinho cumpriu seu papel e o ajudou a se afogar em sim mesmo, viajou para no tempo para encarar o que se passou.

Fechou os olhos quando as lágrimas se libertaram de sua prisão, e foram deslizando livres pelo rosto dele. Poucas pessoas conheciam essa parte da sua lembrança, e só uma podia relacionar tudo fazendo ele se sentir daquele jeito. “Alô?”, disse uma voz feminina do outro lado da linha. A voz soou tão suavemente, se sentiu acordando de seus devaneios. Então teve certeza de quem era. Só uma pessoa conhecia tanto sobre ele.

“O que você quer?”, respondeu ele. Sua voz demonstrava a indignação que sentia. Sabia que fora desarmado daquele jeito por algum motivo, e seja qual fosse não iria se deixar levar. Enxugou as lágrimas e se serviu da quarta taça de vinho. Estava de volta a seu presente. Uma noite fria e solitária. Vinho e música. Problemas e decepções.

“Quero conversar”, ela disse. “Se eu lembro bem, você sempre atendeu quando te ligavam de madrugada. Você dizia para todo mundo que nunca desligava o telefone por isso. Porque se alguém precisasse de algo você estaria lá. Hoje sou eu quem precisa falar com você, vai me ouvir?”

Era verdade, muitas vezes recebia ligações de amigos e conhecidos que precisavam conversar com alguém, e por duas vezes atendera a desconhecidos também, que por uma coincidência tinham ligado errado para a pessoa certa. Mas ela era a responsável pelas feridas que mais sangravam.

“Não posso fazer isso”, respondeu ele. “Você sempre me pede mais do que posso fazer”. Lembrou de outra música, Piano Bar, dos Engenheiros do Havaí, eram os versos que definiam sua relação com ela. Ele dando muito e pedindo pouco. “Já te dei muito, não vou dar mais nada, já chega.”.

Ele sentiu sombras cobrirem seu coração quando ouviu o choro do outro lado da linha. “Por favor, estou tão sozinha, preciso falar com você e você precisa me ouvir.”, ela suplicou. As palavras dela sempre tiveram uma forte influência sobre ele, mas hoje não se deixou levar, sofrera demais por ela. “Eu não posso”, foi só o que conseguiu dizer. Ouviu-a suspirar, sabia que essa não seria a última vez, porque ela nunca o deixaria, sempre voltaria em outras noites para tentar se fazer ouvir. Hoje ela tentou chamá-lo pelo telefone, tentando ludibria-lo, aproveitando que estava bêbado para iludi-lo. Hoje ela perdeu, amanha não sabia qual seria o seu artifício. O que ele também não sabia era que seria cada vez mais fácil se negar. “Até logo”, ela disse, com uma tristeza cortante, e desligou.

Ele então se levantou e foi deitar no chão frio. Nas últimas semanas se acostumara com o frio. O telefone voltou a tocar música. L`aventura, Legião Urbana, segunda música do Tempestade. “Mais uma vez apropriado”, pensou ele. Não se sentia melhor por ter conseguido dizer não para ela. Talvez fosse melhor viver com o pesar dela dentro da sua cabeça, mas era definitivamente mais fácil dormir assim. Dormiu quando a música ia acabando com seus versos finais.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Chamado, Parte I

Era mais uma noite comum. Mais uma vez em que ele não conseguira dormir, o que não lhe preocupou. Adorava a noite, parecia haver um entendimento entres os dois que jamais iria encontrar, os dois eram amantes de longa data. A única companhia que jamais lhe abandonava, sempre respondia ao chamado dela, e naquela madrugada não iria ser diferente. Outra madrugada de muitas que já tivera.

Foi até a larga varanda da casa. Sentou-se na beirada, com uma taça numa mão e uma garrafa de vinho na outra. Era tinto como o sangue e as paixões deveriam ser. Deixou a taça e a garrafa no chão, e fechou os olhos para sentir a brisa noturna, respirando bem fundo.

Esse ritual sempre o acalmava, fazia seu coração voltar ao compasso e sua mente parar de trabalhar. Ultimamente se sentia cansado de se preocupar com tudo, precisava de descanso. Então se serviu uma taça bem cheia. E ficou com ela na mão, observando a cor e consistência do líquido. Observava como se nunca tivesse visto uma taça de vinho na vida.

Lembrou do que lera em um livro uma vez: vinho, música e mulheres, os três remédios para as feridas da alma de um homem. “Se fosse assim tão fácil”, pensou ele e tomou o conteúdo da taça de uma vez. Desejando que cada gole levasse consigo as palavras engasgadas que insistiam em ficar na sua garganta. Levara muito tempo para aprender o valor da mentira e da omissão.

Não queria saborear a bebida, procurava pelo estado de liberdade que ela sempre lhe proporcionava. Aquele estado onde o seu corpo e sua mente não querem mais lhe obedecer, estar livre em si mesmo. Dessa forma encheu outra taça de vinho, mas a deixou descansar no chão ao lado da garrafa, enquanto olhava para a rua onde sempre morara.

“Nada está como antes”, falou em um sussurro solitário. Não havia ninguém para ouvi-lo, o que de fato era bom, pois estava cansado de ouvir conselhos e pérola de sabedoria que já estava cansado de saber. Sabia que a função do tempo era mudar as coisas, tudo ia e vinha, nada ficava. Era só o que gostaria de saber, como fazer para que algo ficasse, não só perdurasse, mas simplesmente e realmente permanecesse e continuasse.

Bebeu a outra taça de vinho, em dois goles dessa vez. Não queria cair da beirada, mas isso realmente não seria uma boa idéia? Tentou imaginar o que sentiria quando sua cabeça tocasse o chão, mas resolveu que não era uma idéia lá muito genial pensar nisso enquanto bebia vinho na beirada da varanda de sua casa.

Aquele era seu lugar preferido. Em nenhum outro lugar podia se sentir realmente sozinho e ao mesmo tempo em paz para pensar. Pegou o seu celular e colocou sua banda favorita para tocar, Pearl Jam. A primeira música do disco era mais que apropriada, Presente Tense, digerir o passado ou viver o presente? Era nisso que pensava hoje, no que foi e no que será. Já tinha cumprido mais da metade da receita, vinho e música, mas até agora de nada adiantou, não sentia progresso em sua confusão, as feridas da sua alma ainda sangravam.

Então lhe ocorreu que talvez outra taça de vinho pudesse ser o que faltava, afinal três é sempre melhor, encheu a taça denovo, e bebeu lentamente, gole por gole, enquanto terminava a música em compasso mais agitado que o do começo. Poucas vezes na sua vida parara sozinho em casa para realmente ouvir música, ultimamente tinha feito, sentido e vivido várias coisa novas. Nessa noite por exemplo, era a primeira vez em que bebia sozinho.

E mesmos assim de nada adiantara. Ainda sentia o mesmo amargor em sua garganta à noite e as mesmas cobranças durante o dia. Antes de começar a próxima música, seu telefone tocou com uma nova chamada. O visor indicava que o número de onde originava a ligação não constava de sua agenda, fato que o deixou intrigado. Hesitou por um momento e atendeu.


Continua...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Tesouro Perdido, Parte II

Muitos leitores vêm me pedindo para dar continuidade a algumas histórias, então atendendo a esses pedidos este post é a continuação do post anterior. Se alguém quiser dar uma sugestão sobre algum post antigo de que gostaria de ver uma continuação ou que seria cabível é só dizer.

Estou de pé na frente da porta. É aqui onde tudo deve terminar, só basta abri-la para cumprir com a minha missão. Mas estou tão cansado que caio de joelhos, usando minha espada como apoio para não cair. Nem parece com arma magnífica que fora a tão poucos dias atrás, está partida. Só lhe restou o cabo e mais alguns centímetros de lâmina.
Sinto o sangue escorrendo pelo meu corpo até minha perna. A armadura que brilhava a luz do sol enquanto cavalgava, agora está amassada, enegrecida e pesa mais que meu corpo. Aperta meu peito e não me deixa respirar. Começo a desprendê-la de mim. Quando emfim a retiro, sinto-me livre, tento respirar fundo. Mas parece que estou respirando fogo em vez de ar.
Meu peito arde, sinto as pontadas dos ferimentos, parece que sinto as garras daquele dragão penetrando novamente na minha carne. Largo minha espada quebrada, de nada mais ela será útil. Me apoio com ambas as mãos no chão e quase bato com a cabeça na porta.
Dei tudo de mim para chegar aqui, e a tudo perdi. Só restou o que me mantém vivo, meu coração, batendo com tanta força que me faz sentir mais dor. A dor, minha velha conhecida, não me deixa esquecê-la. Tão forte é sua presença. Nada consegui na vida sem a companhia dela. E aqui estou eu, tentado dar o ultimo passo, mas a dor não deixa.
Meu sangue se esvai levando junto com ele o que me trouxe até aqui. A cada gota sinto menos, quero menos, anseio menos. As sombras começam a se mover pelos cantos, tentam se aproximar de mim sem que eu perceba. Mas eu as sinto perto. Lembro do frio reconfortante do seu abraço, a promessa de paz de seu toque, mas lembro também do refúgio vazio que elas criam. Onde só há silêncio e escuridão.
Com um impulso empurro meu corpo para trás e estendo minha mão para a maçaneta da porta, e a seguro com força. Mais dor, mais sangue advém do esforço, me puxo em direção a porta e me choco nela, aproveito a chance para descansar, sinto frio, ouço o rastejar das sombras e é nesse momento que giro a maçaneta e caio para dentro do quarto. Eu e o que sobrou de mim adentram.
Estou lá sem espada, sem armadura e sem cavalo. Somente eu e o que sobrou de mim depois da longa viagem, da dura luta e da difícil subida. Estou aqui, e espero que ela me acolha e cure minhas feridas, pois tudo fiz por ela, e agora só desejo a paz de seu amor.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tesouro Perdido

Só por hoje tenho que ser corajoso, não posso me esconder. Hoje eu serei eu mesmo. Devo ser o que já fui, tenho que reaver meu coração. Procuro pelo meu precioso tesouro que está perdido. Eu sei que ainda está comigo, posso sentir, ela me fez percebe que ainda estava aqui dentro.Preciso encontrá-lo.
Paro e fecho os olhos, tento voltar para casa, voltar para dentro de mim mesmo, posso sentir as sombras que me tomaram. Fecho os olhos buscando o rosto dela, procurando sua voz, sentindo o seu cheiro, só com ela eu posso conseguir, preciso da coragem dela. Ela arriscou tanto por mim, não posso decepcioná-la. Ela precisa de mim.
Ao abrir os olhos, vejo as sombras me abraçando e obscurecendo a minha visão. Estão me levando de volta. Percebo que elas preencheram tudo, não deixando nenhum espaço vazio. Não havia nenhum resquício do que havia antes. Só havia escuridão.
Vejo luz à frente, foi apenas um lampejo fraco, mas sei que estava lá. Me solto do abraço frio que me envolvia e caminho até onde vi luz, caminho vacilante, mas sempre em frente. Dessa vez nenhuma escuridão vai me deter. Caminho até não agüentar mais o cansaço insistente, tento continuar até tropeçar e cair. Sento e com desespero cubro o meu rosto com ambas as mãos. Sinto o calor das lágrimas que escorrem pela minha face. Está tão silêncio que até as ouço quando tocam o chão.
Algo queima em minhas mãos, então as retiro do meu rosto. Ainda estão úmidas das lágrimas. Sinto como se segurasse algo pegajoso nelas, mas que não consigo ver, formo uma concha para segurar com cuidado. Algo pulsa, bem devagar. É quase imperceptível, mas o pulsar se intensifica, seja o que for parece crescer com cada pulsação. Nesse momento um filete de luz atravessa a escuridão, vindo do alto e ilumina minhas mãos.
Lá está ele, o coração perdido e agora encontrado. Ao ser tocado pela luz para de pulsar e de crescer, e vejo que ele fora esculpido a partir de um imenso rubi. A jóia mais linda que eu já vi.
Levanto com o meu tesouro nas mãos. Entendo o que eu tenho de fazer e o deixo cair, se espatifando no chão. Um clarão ofusca meus olhos. Quando volto e enxergar, percebo que consegui tudo de volta, minha espada está em sua bainha, presa à minha cintura. Com ela posso atravessar a cerca de espinhos. Minha armadura totalmente restaurada, brilha como se fosse recém forjada. Vai me proteger do dragão.
Meu coração bate denovo, volto a ser completo. Só assim poderei subir as escadas da torre e chegar até ela. Só assim posso atravessar a porta.
Monto meu cavalo, e parto com pressa. Rezo para não ser tarde demais. Tenho que chegar a tempo.

domingo, 17 de maio de 2009

Ser ou nao ser, será o bastante?

Às vezes ficava tão difícil, pois estava tão cansado de ser ele mesmo. Desejava muito voltar ao momento onde escolheu ser o que era. Precisava saber se seria capaz de repetir a escolha feita. Desejou ser algo que não era.
Ser quem ele é nunca era o bastante, sempre lhe lembravam que faltava algo. Que ainda não bastava. Sentia tanta raiva, principalmente de si mesmo, por ser tão ingênuo em acreditar, em sonhar.
Percebeu que já estava perto da linha que separava o que ele é, o que tinha sido e o que queria ser. Ficou surpreso por ter descoberto o caminho de volta, achou que seria mais difícil voltar até lá.
Havia sombras que o impedia de ver o outro lado. Lembrou que já estivera lá outras vezes, sempre escolhendo um lado diferente, e sempre voltava ao início. Só faltava mais uma tentativa, dessa vez tinha que dar certo, a ultima tentativa de ser completo, de ser o suficiente para si mesmo e para quem amasse.
Bem no fundo sabia que nunca ia ser o bastante, sabia que ia sempre faltar-lhe algo. Sabia disso porque parecia ser o que lhe definia, foi assim das outras vezes porque mudaria agora? Nunca deixaria de ser ingênuo, mais uma vez ia acreditar e sonhar, para o bem ou para o mal, de qualquer jeito era o fim.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Distância

Ela estava ali, tão presente que ele podia senti-la no ar. Acreditava que se esticasse o braço e estendesse a mão podia tocá-la, mas tinha medo. Desejou que ela não existisse. Pela primeira vez na vida se lhe dessem a opção ficaria com a dúvida em vez da verdade.
Era uma das poucas coisas que temia em sua vida, pois sabia o efeito que tinha sobre as pessoas. Ele pôde vê-la afastar várias coisas que sempre amou, a especialidade dela sempre fora essa, separar, e ela nunca falhava nisso.
Aprendeu a temê-la, afinal era uma inimiga que nunca vencera, e ele odiava perder. E ao odiá-la só piorava tudo, porque ele sabia que não pode entender algo que se odeia.
Sua natureza falou mais alto, então resolveu abrir os olhos e enfim ver como ela era, mas para sua surpresa não era como ele achava, só viu uma superfície lisa à sua frente que à primeira vista parecia tão fina e frágil.
Aproximou-se e a tocou, pensava que podia atravessar aquela barreira que mais parecia uma cortina de água, mas se surpreendeu outra vez ao perceber que sua mão não podia atravessá-la, parecia que a superfície ficava mais resistente quando aumentava a pressão que fazia.
Podia ver o outro lado, podia ouvir quem estava lá, podia até a sentir os cheiros familiares que vinha através dela. Ficou confuso com tudo isso, queria não ter sentido nada, pensou que não sentiria nada enquanto ela estivesse entre ele e o que amava. Só de saber que havia algo lá já era torturante, mas poder ver, ouvir e sentir o que estava do outro lado tendo a certeza da presença dela ali era definitivamente mortificante.
Poucas vezes se sentira tão triste em sua vida, estava além da sua compreensão que algo aparentemente tão frágil pudesse tirar dele várias coisas que amara.

terça-feira, 5 de maio de 2009

A estrada

Ele sabia que era sua obrigação seguir aquela estrada, mas ao olhar para o caminho à sua frente se sentia desanimado. Não conseguia ver nenhum sinal de que estava perto de chegar ao fim, e já tinha caminhado tanto. Atravessara todo tipo de impedimento até ali, em muitos momentos tentou em vão outros caminhos e trilhas que às vezes apareciam, mas sempre acabava voltando para aquela estrada em particular.
No começo achava que seria fácil trilhar o caminho, pois caminhava por um gramado verde e macio, mas aos poucos a paisagem foi mudando, primeiro em um planalto pedregoso, depois em uma muralha de montanhas que foi seguida por um conjunto de precipícios, e a estrada continuou mudando, todo dia ela se transformava em algo diferente.
Caminhou, escalou e nadou. E a cada vez que a paisagem mudava pensava que seria pela última vez, mas sempre estava errado.
Aquela estrada parecia seguir eternamente, testando-o a cada curva. Sem nunca se perder, ele só podia continuar e desejar que a viagem valesse a pena quando descobrisse o que havia no final.
Mas ele estava tão exausto. Exausto de não conseguir mudar de caminho, exausto de tantos testes, exausto da dúvida que crescia a cada dia em sua mente. No início não a percebeu, ficava bem escondida esperando o momento certo, mas agora ela constantemente colocava a prova sua vontade cada vez que ele parava para descansar.
Seu pai sempre lhe dizia que ninguém podia fugir das obrigações a que foi incumbido, mas isso era tudo que desejava. Sabia que isso não era possível, então ele desejou, que se não conseguisse concluir sua viagem, que pelo menos o caminho voltasse a ser aquele campo com grama verde e macia, levemente úmida.
Ele sabia que isso também não era possível.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Escolhas

Ele não conseguia levantar, não tinha percebido como estava cansado. Ficou lá deitado, sem forças para se mover. Sua força tinha lhe deixado, sua fé vacilado. Sua vontade não existia, decidiu que nada iria fazer. Pareceu que o tempo ia parar, seria bom se acontecesse. Ele só queria descansar.

Ele não podia pensar, sua cabeça doía demais. As lembranças dançavam bêbadas, sapateando em seu cérebro, enquanto os pensamentos faziam pressão para sair. Parecia que sua cabeça ia explodir. Até quis que acontecesse, quem sabe assim a dor passasse. Ele só queria ficar em paz.

Ele nada pôde fazer para evitar que a tristeza invadisse a sua fortaleza, seu coração, de tão vazio, quis que algo lhe preenchesse, e assim a tristeza entrou. Sentiu o toque frio que lhe invadia o peito, achou que iria morrer, sentiu seu coração ainda lutar, ele não queria isso. Ele queria o fim.

Ele então lembrou dela, sabia que ela não estava ali, mas achava que podia vê-la assim mesmo. Lembrou dos olhos, que de tão escuros, pareciam dois buracos negros a lhe puxar para junto dela. Lembrou dos cabelos, também escuros, que brilhavam como prata a luz do luar. Ele decidiu que a queria.

Mas sabia que hoje ela não estaria lá, pois ele já tinha feito a sua escolha e como ela tinha dito, quando se faz uma escolha não tem com voltar atrás. Escolheu não abraçá-la por medo, e agora só podia tentar sobreviver sem ela. Toda escolha tem um preço a ser pago, ele sabia disso. Agora só lhe restava a dúvida, a pior das companhias.

PS1: Para melhor entender leia o post: “Perseguição” e descubra quem é “ela”.

PS2: Obrigado a todos que estão lendo minhas histórias, obrigado tanto pelos elogios quanto pelas críticas construtivas.

Segundo Selo

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"Regras deste selo: Esse é o Troféu do Amigo! Esses blogs são extremamente charmosos. Esses blogueiros têm o objetivo de se achar e serem amigos. Eles não estão interessados em se auto promover. Nossa esperança é que quando os laços desse troféu são cortados ainda mais amizades sejam propagadas. Entregue esse troféu para oito blogueiros(as) que devem escolher oito outros blogueiros(as) e incluir esse texto junto com seu troféu!!!"


Indicados:



http://hoppipollablog.blogspot.com/
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Primeiro Selo

selo dado por http://cunhabom.blogspot.com/

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Regras:
1) Exibir a imagem do selo "Seu blog é ROXIE!" e escrever essas regras abaixo dele.
2) Colocar quem te deu o selo nos seus blogs indicados (amigos).
3) Escrever 5 coisas que são ROXIE (1ª sobre música, 2ª sobre televisão e cinema, 3ª três países que gostaria de conhecer, 4ª três cores favoritas e 5ª três hobbies)
4) Indicar 10 blogs que você ache ROXIE.
5) Avise a pessoa (LÓGICO).
As cinco coisas ROXIE:



1) Pearl Jam é a melhor banda do mundo

2) Televisão aberta nao presta e cinema é a maior das artes

3) Reino Unido, Japão e Grécia

4) Azul, preto e verde

5) Ler, escrever e colecionar

meus indicados

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domingo, 26 de abril de 2009

O deserto

Lá estava ele, no lugar onde passara a maior parte de sua vida. Achava curioso o fato de ainda poder reconhecer aquele lugar, mesmo depois de tantos anos. Caminhara muito para chegar lá e logo que chegou percebera que tudo estava intocado.
Quando começou a sua viagem não sabia onde a estrada estava lhe levando. Ele simplesmente trilhou o caminho, só percebeu onde estava indo quando estrada terminou. Era um deserto, não com aquelas dunas de areia, ventos ou um sol escaldante.
A paisagem se resumia a uma imensa planície, onde o solo parecia ter sido vítima de um grande terremoto, rachaduras rasgavam-no formando intricados desenhos que pareciam ter sentido, mas que no fundo não eram nada. O céu era encoberto por nuvens cinza, nuvens que pareciam provir de algum incêndio. A única luz a iluminar tudo era proveniente de um sol em eterno crespúsculo.
Já estivera naquele lugar várias vezes, mas toda vez que chegava ou saia de lá, não conseguia entender como. Estava pensando nisso, tentando lembrar uma forma de sair de lá, de voltar ao começo da estrada que o levou até lá para não se perder denovo, mas por mais que tentasse não lhe era possível lembrar ou encontrar o caminho que o levou até lá.
Estava tão cansado depois de tanto procurar que resolveu descansar, talvez até conseguisse dormir. Ficou lá deitado por horas (ou foram dias?), sem conseguir se mexer, só observando aquela luz triste que mais lhe oprimia do que iluminava. Não havia muito para ver ou ainda para comer ou beber, só havia areia e as suas lembranças.
Então lembrou de uma época na qual conheceu as oito pessoas que o tiraram daquele lugar pela primeira vez. Aquelas pessoas mostraram-lhe o mundo da forma na qual ele fora moldado, um lugar onde você podia encontrar toda a luz que precisasse, mas que da luz vinham as sombras.
Entrara para aquele grupo com admiração, respeito e amor. Todos ali sabiam que podiam contar uns com os outros, juntos eles eram invencíveis.Era um grupo de sonhadores, pessoas que tinham esperança e confiança como sua melhor arma. Mal sabiam eles como estavam certos, pois quando a vida começou a separá-los, levando um de cada vez para longe dos que ficavam, tudo começou mudar.
Ele viu um a um se transformando e mudando, observou calado quando a distância entre eles crescia cada vez mais. Podia ver, podia sentir isso, mas preferiu ter fé. E no fim sua fé não foi o suficiente, e acabou voltando ao início. Voltou para aquele deserto.
Levantou e olhou para a direção de onde a luz parecia vim, decidiu que iria sair sozinho de lá. Não ia esperar por ajuda, sabia que dessa vez nenhuma ajuda viria, dessa vez só podia contar consigo mesmo. Respirou fundo tentando de alguma forma se sentir mais forte, mas não adiantou muito, mesmo assim começou a caminhar denovo. Estava partindo e prometeu a si mesmo que nunca mais iria voltar àquele lugar.

terça-feira, 21 de abril de 2009

A Torre

Estar naquela torre sempre fora uma experiência aterrorizante para ele. Além do temor que nutria por alturas, estar lá no lugar mais alto do seu reino onde podia ver tudo, sempre lhe fazia sentir frágil, sentimento cujo qual lhe fora por toda vida, o seu maior temor. Felizmente aprendeu a enfrentar esse medo para não deixar que ele se tornasse uma barreira para o que desejava. Por isso sempre voltava àquela torre, para enfrentar o seu medo.
Do alto da torre podia ver tudo que construiu e tudo que lhe era importante, conseguia lembrar de cada pedra que erigira para construir o seu castelo, lembrava o nome de todas as pessoas que moravam em seu reino, tinha decorado cada pedra, cada árvore, todos os detalhes do que fora feito ali. O que incluía a Floresta Solitária.
Lembrava da época que costumava perambular por suas trilhas confusas, ou quando ficava vários dias e noites enclausurado lá, deitado olhando como o passar do dias afetavam aquele lugar. Sempre fora o seu lugar favorito do seu reino, até que a floresta foi ficando cada vez mais escura, a cada dia que passava ali parecia que ia ficando cada vez mais difícil para a luz do sol adentrar aquele lugar.
Logo que percebeu isso, saíra de lá e nunca mais retornou. E foi quando saiu de lá que viu as pessoas que já moravam naquela terra, foi quando começou construção do seu reino. Um lugar feito de lembranças, fortificado com esperança e habitado com amor, pois reinara para os seus.
E hoje descobriu o que habitava aquele lugar, o que impedia que o sol iluminasse o interior da floresta. Era um dragão e hoje a criatura resolvera sair do seu abrigo. Observava o enorme monstro voando e destruindo tudo que levara uma vida inteira para construir, as chamas que saiam da sua boca engoliam tudo, ele estava transformando o seu reino em um monte de cinzas que já impregnavam o ar, levadas pelo vento fétido da morte.
Olhava isso acontecer de forma impassível, sabia que nada podia fazer. Aquele monstro esperou durante muitos anos para efetuar a sua vingança. Sabia que ele esperou até quando ele se tornasse o mais forte, hoje essa luta estava perdida. Lágrimas escorriam, deixando marcas nos lugares onde limpavam as cinzas do seu rosto.
A única coisa que pôde fazer foi uma prece silenciosa para que sobrevivesse a esse ataque para que tivesse a oportunidade de construir tudo denovo, amava o que estava sendo destruído, mas lembrava do porque que de amar cada pedacinho do seu reino. Amava aquele reino porque o construíra com suas próprias mãos e tinha forças para fazer tudo denovo, nem que tivesse que fazer tudo sozinho.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Sonhos, Pesadelos e Mudanças

Ele quase nunca sonhava, pelo menos era isso que acreditava. As pessoas diziam que era impossível, todos sonham durante o sono mas muitas vezes não lembravam. Ele tinha certeza quando não sonhava.
Sabia quando acontecia porque ele não dormia quando sonhava, parece um paradoxo, mas era isso que acontecia. Quando tinha um sonho ele não se sentia acordando pela manhã e sim simplesmente abrindo os olhos, por isso odiava sonhar.
Os sonhos sempre pareciam tão reais que tinha a sensação de que não dormira mas que realmente vivera aquela experiência. Fato que para ele estragava o seu dia, sempre que “acordava” depois de uma noite dessas se sentia tão frustrado que não conseguia disfarçar o seu mau humor.
Odiava sonhar, por que nós tínhamos a necessidade de vivenciar algo tão fútil e irreal? Por que perder tempo com algo que tinha certeza que não ia acontecer? Suas noites de sonos eram muito importantes para serem desperdiçadas assim, ele precisava de paz, precisava não pensar em nada, precisava simplesmente dormir.
Durante a maior parte da sua vida só tivera um pesadelo que eventualmente se repetia. Não era comum isso acontecer, nunca entendera o que naquela noite ou dia em particular o levava a sonhá-lo, pois a primeira vez que o teve foi há tanto tempo que nem consegue se lembrar com que idade aconteceu. Muito menos conseguiu decifrar o que o fazia se repetir, o fato interessante aqui era que não odiava ter pesadelos, e daí se acordava no meio da noite assustado? Pelo menos podia voltar a dormir e descansar sua mente.
Assim eram suas noites de sonos, na grande maioria das vezes ao pegar no sono sua mente conseguia descansar, às vezes acordava no meio da noite e outras vezes passava a noite inteira acordado sonhando algo que não queria.
Era assim até que tudo mudou, ele nunca gostou de mudanças. Sabia o quanto mudanças eram necessárias, e que muitas vezes eram boas, mas não gostava. Principalmente quando começou a sonhar todas as noites, fazendo com que se sentisse tão cansado e deprimido que não conseguia fazer nada durante o dia, e ainda, o bom velho pesadelo com o qual já estava acostumado sumiu, fazendo com que ele tivesse pesadelos que realmente lhe assustavam, que lhe faziam acordar no meio da noite sem conseguir respirar, ou que não lhe deixavam voltar a dormir. “Tudo pode piorar”, um amigo sempre lhe dizia em um tom brincalhão, infelizmente para ele, era verdade. Por isso não gostava de mudanças, quando algo mudava tinha metade de chances de ser para pior. E na minha opinião metade nesse caso é muito.