domingo, 26 de abril de 2009

O deserto

Lá estava ele, no lugar onde passara a maior parte de sua vida. Achava curioso o fato de ainda poder reconhecer aquele lugar, mesmo depois de tantos anos. Caminhara muito para chegar lá e logo que chegou percebera que tudo estava intocado.
Quando começou a sua viagem não sabia onde a estrada estava lhe levando. Ele simplesmente trilhou o caminho, só percebeu onde estava indo quando estrada terminou. Era um deserto, não com aquelas dunas de areia, ventos ou um sol escaldante.
A paisagem se resumia a uma imensa planície, onde o solo parecia ter sido vítima de um grande terremoto, rachaduras rasgavam-no formando intricados desenhos que pareciam ter sentido, mas que no fundo não eram nada. O céu era encoberto por nuvens cinza, nuvens que pareciam provir de algum incêndio. A única luz a iluminar tudo era proveniente de um sol em eterno crespúsculo.
Já estivera naquele lugar várias vezes, mas toda vez que chegava ou saia de lá, não conseguia entender como. Estava pensando nisso, tentando lembrar uma forma de sair de lá, de voltar ao começo da estrada que o levou até lá para não se perder denovo, mas por mais que tentasse não lhe era possível lembrar ou encontrar o caminho que o levou até lá.
Estava tão cansado depois de tanto procurar que resolveu descansar, talvez até conseguisse dormir. Ficou lá deitado por horas (ou foram dias?), sem conseguir se mexer, só observando aquela luz triste que mais lhe oprimia do que iluminava. Não havia muito para ver ou ainda para comer ou beber, só havia areia e as suas lembranças.
Então lembrou de uma época na qual conheceu as oito pessoas que o tiraram daquele lugar pela primeira vez. Aquelas pessoas mostraram-lhe o mundo da forma na qual ele fora moldado, um lugar onde você podia encontrar toda a luz que precisasse, mas que da luz vinham as sombras.
Entrara para aquele grupo com admiração, respeito e amor. Todos ali sabiam que podiam contar uns com os outros, juntos eles eram invencíveis.Era um grupo de sonhadores, pessoas que tinham esperança e confiança como sua melhor arma. Mal sabiam eles como estavam certos, pois quando a vida começou a separá-los, levando um de cada vez para longe dos que ficavam, tudo começou mudar.
Ele viu um a um se transformando e mudando, observou calado quando a distância entre eles crescia cada vez mais. Podia ver, podia sentir isso, mas preferiu ter fé. E no fim sua fé não foi o suficiente, e acabou voltando ao início. Voltou para aquele deserto.
Levantou e olhou para a direção de onde a luz parecia vim, decidiu que iria sair sozinho de lá. Não ia esperar por ajuda, sabia que dessa vez nenhuma ajuda viria, dessa vez só podia contar consigo mesmo. Respirou fundo tentando de alguma forma se sentir mais forte, mas não adiantou muito, mesmo assim começou a caminhar denovo. Estava partindo e prometeu a si mesmo que nunca mais iria voltar àquele lugar.

4 comentários:

  1. Li um texto no G1 sobre os 23 anos do acidente de Chernobyil e esse deserto me pareceu a cidade evacuada, com luzes de radiação. Essas 8 pessoas poderiam ter sido aquelas que a resgataram do acidente. Bom... quem deve ter vivido um trauma desses deve sentir vontade de visitar a cidade antes do dia 26/04/1986 e não se deparar com a cidade fantasma cheia de horrores desse dia em diante...

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  2. "Já estivera naquele lugar várias vezes, mas toda vez que chegava ou saia de lá, não conseguia entender como."
    Às vezes, só às vezes, eu sinto que, mesmo estando comigo há anos, ainda me desconheço e sou uma completa estranha. Os meus desertos e caminhos então.. nem se fala.

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  3. O dificil não é prometer não voltar ... a maior dificuldade é cumprir essa promessa..
    Maiis o texo foi perfeito

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  4. Acho que esses mistérios que envolvem sorte, destino e outras cositas más não poderão ser desvendados por nós nem hoje nem nunca. São os mistérios da vida e devem ser preservados assim.

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