segunda-feira, 16 de março de 2009

Perseguição

Correr, ele tinha que continuar correndo. Era só o que importava, mas o ar nos pulmões já queimava ao respirar, suas pernas doíam, o peso do corpo tinha triplicado. Mas ele tinha que correr só mais alguns metros.
Nunca sentiu tanto medo em toda sua vida, parecia que o medo lhe tirava todo o arbítrio, seu corpo só conseguia fazer uma coisa: fugir. Então quase caiu no chão de cansaço quando avistou o prédio onde morava. Não podia parar para descansar estava tão perto. Desacelerou o ritmo para atravessar a rua, nesse momento pôde ouvir o seu perseguidor. Voltou a correr e praticamente colidiu com a porta de entrada do prédio.
Entrou e logo no ali na entrada se sentiu aliviado, olhou para a rua, mas não viu ela. “Ela deve ter ido embora”, pensou. Subiu as escadas lentamente. Entrou no apartamento, e caiu no sofá, parecia que pesava mais de 200 quilos, quando estava quase adormecendo, ouviu o som de asas. Ela tinha lhe encontrado.
Ele tentou olhar para ela, mas não conseguiu. Podia ver beleza naquela mulher, ao mesmo tempo tinha certeza que aquilo que estava olhando era a criatura mais terrível e horrenda que já pisou na face da terra. Foi ai quando achava que nada mais podia surpreendê-lo, ela tocou-lhe o rosto levemente e levantou o seu queixo para que olhasse diretamente naqueles profundos olhos negros.
Ela disse: “Onde você estava indo?”, sua voz era o som de um eco que parecia vim de um lugar tão distante que mais parecia um sonho, ou melhor, um pesadelo. “Eu estava vindo pra casa.”, ele respondeu. “Porque você não me convidou?”, ao dizer isso ela parecia tão triste, o coração dele se apertou como se estivesse parando, aquela voz perfurou-lhe fundo na alma. “Eu não sei.”, foi o que conseguiu dizer antes de começar a chorar, ficou confuso, pois não sabia o porquê de estar chorando.
Estava de olhos fechados tentando parar de chorar e sentiu alguém sentando ao seu lado e lhe abraçando. “Deixe-me ficar”, ela sussurrou em seu ouvido esquerdo. Ele queria dizer sim, mas não conseguia, por mais que quisesse não podia. “Se eu não ficar, você sabe o que acontece? Talvez eu não volte mais”, dessa vez a voz dela era fria e ao mesmo tempo rígida, como se fosse um bloco de aço se deslocando pelo ar até os seus ouvidos. “Eu não quero que você fique. Você é indecifrável, incerta e inesperada, não vou mais me arriscar e eu sei que em breve você vai voltar e vai me obrigar repetir a escolha, só peço que me deixe em paz”, ao dizer isso ele sentiu como se algo dentro de si se mexesse e saísse do seu corpo, usando as palavras que usou como ponte para o mundo real. Ela suspirou, parecia que todo o ar da sala estava sendo sugado, então disse: “Você está certo, um dia eu volto, mas saiba: tudo que dá prazer, dura só um momento, tudo o que nos aflige é momentâneo, somente o que é eterno tem importância”. Ele pôde sentir quando ela foi embora, pareceu que tinha morrido por um segundo e de repente voltou à vida e abriu os olhos. Ainda era noite, se levantou e ligou a luz do quarto, a primeira coisa que viu quando sua visão clareou foi o quadro, estava logo acima da cama, nele estava escrito: “Carpe Diem”. Jogou o quadro pela janela e voltou a dormir.

Um comentário:

  1. Carpe Diem é uma frase em latim de um poema de Horácio, e é popularmente traduzida para colha o dia ou aproveite o momento. É também utilizado como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro.

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