sexta-feira, 13 de março de 2009

Estrelas do Passado

Ele estava velho, costumava dizer que podia sentir em cada osso. Mas não podia largar o emprego. Depois que sua mulher morreu era uma das coisas que lhe fazia feliz. “Quem diria”, ele pensava, “Estou orgulhoso por ser um professor de física”. Realmente quem o conheceu quando era jovem, nunca iria imaginar que aquele garoto cabeludo metido a roqueiro, iria se tornar aquilo que sempre criticou.
“Mas nada disso importa, não quando você está olhando as estrelas.” Sua mulher lhe dizia. Eles se conheceram jovens, antes da faculdade, e nunca mais se separaram. Ele cresceu e mudou, ela só ficou cada vez mais linda. Casaram-se após se formar, ele em física e ela em letras. Tiveram sorte ao comprar uma casa numa área da cidade onde não havia prédios e as casas vizinhas não atrapalhavam a visão do céu. Esperaram anos pela casa certa e não desperdiçaram a chance.
Ele estava sentado no quintal espaçoso e sem árvores, tudo planejado para esse prazer que os dois gostavam de desfrutar juntos, com piqueniques noturnos e longas conversas. Só havia uma cerca - viva que separava a sua casa dos vizinhos.
Podia sentir o cheiro da grama úmida que precisava ser aparada. Era noite de lua crescente. O céu estava limpo apesar de estar na época de chuvas. Então ele lembrou de uma das muitas conversas que eles tiveram deitados naquela grama.
Trinta anos antes, foi no primeiro fim de semana após eles se mudarem para a casa nova. Ela estava lá com ele, deitada em uma toalha de praia recostada em seu ombro com seus longos cabelos negros, ainda podia lembrar do cheiro dos cabelos dela, sentir o peso da cabeça dela no seu ombro. Era a noite de seu aniversário.O presente tinha sido aquela casa que ele pôde comprar para viver com a mulher que amava.
Gostava de falar sobre as estrelas para ela. Contou-lhe que a luz das estrelas mais próximas que enxergamos no céu, leva em média trinta anos para chegar a terra. Disse que ao olhar para o céu estrelado, você está vendo o passado.
Então ela disse: “Então estou vendo você nascer e essa luz, que agora me encanta, nasceu junto contigo, e vocês dois vieram até mim. E aqui estou eu encantada e feliz por vocês terem vindo. Isso é que deve ser destino”.
Ele a abraçou junto ao seu corpo e a beijou. Fizeram amor pela primeira vez naquela casa, cuja qual foi lar deles até o dia que ela partiu.
Quando deixa-lo não era mais uma opção, ela lhe disse: “Querido até as estrelas morrem não é?” e ele respondeu: “Verdade, meu amor, mas sem antes levar tudo que está perto delas consigo, eu quero ir com você, continuar fazendo parte de você.”. Então ela tomou a mão dele, segurou-a contra o rosto e disse: “Quando você vai aprender que até a física pode se enganar”, depois esboçou um sorriso e ele teve que aceitar, ele nunca negava nada àquele sorriso.
Agora ele estava lá, olhando para o passado sozinho, para o dia em que viram o início da estrada, estrada que os levou a colidirem. Depois da colisão um novo universo se abriu, um universo só deles. Ela estava errada, mais uma vez a física estava certa, o sol da vida dele morreu, e no seu lugar ficou um buraco negro, que um dia vai engolir tudo que está em volta, ai o final vai chegar.

Um comentário:

  1. Excelente texto, cara! Adorei, apesar de não ser o argumento principal, a referência de tempo com o espaço. Para mim toda e qualquer refência ao universo lá fora nos transforma em seres tão insignificantes.

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